Aceleradora segue com 14 cidades ativas no Brasil. Uma reunião com mentores de outras cidades aconteceu em ambiente virtual
Maior aceleradora de startups pré-seed do mundo, fundada em Palo Alto, na Califórnia, o Founder Institute continua trabalhando na missão de globalizar o Silicon Valley no Brasil. Nas 14 cidades onde está presente no país, as atividades continuam a pleno vapor, inclusive no recém-lançado capítulo Vitória. Segundo o diretor do Founder Institute Brazil, Miguel Barreto, todas as cidades fizeram a transição para o virtual quando a situação da Covid-19 se agravou, e assim serão mantidas até ao final do ano, pelo menos.
Em Vitória, que está no seu primeiro semestre de existência, o programa já teve início em ambiente virtual. “Na próxima semana teremos a primeira banca de avaliação (Mentor Idea Review), que é mais ou menos 1/3 do programa. A experiência virtual tem algumas vantagens: facilitou convidar mentores de outras cidades em nível nacional ou até global para as sessões. Criamos sessões extras direto com o Silicon Valley e oferecemos mais mentorias individuais virtuais com os mentores e com os diretores”, salienta Barreto.
Para empreendedores aspirantes e em estágio inicial, o programa oferece uma metodologia passo a passo, num processo estruturado, com apoio dos mentores locais e uma rede global de apoio. O Founder Institute é o único programa desse tipo que é focado no empreendedor e não nas suas ideias, além de compartilhar o patrimônio das empresas graduadas com todos os participantes.
Para o diretor do Founder Institute, o capítulo de Vitória tem demonstrado resultados excelentes para uma primeira edição. “Há projetos muito interessantes e um grupo de mentores muito bom e engajado das melhores startups do Espírito Santo. O programa é duro e os founders ainda têm um caminho a trilhar até a graduação. Queremos ajudá-los a crescer, desenvolver e profissionalizar o ecossistema capixaba de startups. Acreditamos que founders mais preparados podem fazer a diferença para resolver os problemas do mundo”.
Crise x oportunidade
Miguel avalia que nas maiores crises surgem as maiores oportunidades. “Os founders que estão desenvolvendo suas startups neste momento de crise e dificuldade vão ficar mais preparados para o mercado e saem com o pé no acelerador na saída da crise”, diz. Ele acredita ainda que uma startup em estágio inicial é muito mais ágil para se adaptar aos novos paradigmas, do que empresas que já têm uma série de infraestruturas, funcionários e processos que estavam baseados no mundo pré-Covid. “O mundo já mudou e não vai voltar ao normal, vamos sim para um novo normal”.
O ecossistema brasileiro de startups está dividido em relação à pandemia. Enquanto algumas startups baseadas em atividades offline sofreram bastante impacto, como, por exemplo, Gympass e Maxmilhas, houve outras que cresceram muito durante a crise, pois tinham soluções que digitalizavam serviços offline que tiveram de parar (iFood, Conta Azul, Take e e-commerces).
“Há também algumas startups que adaptaram os seus produtos à crise, o que se chama de pivotar, para conseguir trabalhar durante a crise. Em geral, as startups sendo de base tecnológica, muitas vezes já trabalhavam em coworkings e têm relativa facilidade em trabalhar de forma remota e conseguir operar durante a crise, o que não acontece de forma tão fácil com o comércio tradicional ou a indústria, que dependem muito de infraestruturas, atendimento pessoal e trabalhadores de forma presencial”, analisa o diretor.
Meta mantida
Os percalços da pandemia em nada mudam os planos do Founder Institute em Vitória. A meta de lançar mais de 20 empresas globais de tecnologia por ano na capital capixaba está mantida. “Nossa meta é essa e talvez conseguiremos atingir já em 2021. Para atingir essa meta teremos de rodar dois semestres por ano, graduar 10 a 15 founders por semestre, iniciar o semestre com 25 a 30 founders e ter cerca de 500 a 700 candidatos inscritos por semestre no nosso programa”, explica Miguel.
A seleção dos participantes é dura e só os potenciais empreendedores sobrevivem. “Precisamos destes números relativamente grandes porque todos os candidatos passam por um teste de admissão, que chamamos de DNA empreendedor, baseado em ciência de dados. Só aceitamos pessoas com alto potencial empreendedor. Dos founders matriculados no programa só cerca de 30%, em média, graduam no programa, devido à exigência do mesmo. O objetivo não é graduar muita gente, mas apenas os que se revelarem empreendedores de verdade. O programa é difícil mas o mercado é ainda mais difícil, apenas tentamos simular o que os empreendedores vão encontrar mais na frente”, afirma o diretor.
“Tropa de Elite”
Carlos Bittencourt é administrador e trabalha numa agência de publicidade. Já está dentro do ecossistema há algum tempo, quando veio de Belo Horizonte, há 11 anos, para implantar por essas bandas a empresa de e-commerce local Peixe Urbano. Desde então, começou a trabalhar com algumas startups, até pensar numa ideia para a sua. “Entrei no Founder Institute com uma ideia e com algumas certezas, que foram quebradas ao longo do programa. Porque esse é o formato. Nos falam para manter a cabeça aberta e confiar no programa”, revela o participante.
O candidato a founder não tinha ideia do que o esperava quando iniciou o programa. “Estou fazendo uma segunda graduação em Ciência de dados, para começar a já pensar nesse futuro digital. Achei que conseguiria conciliar com o programa com tranquilidade, mas vi que é preciso ter muito foco e tempo para fazer bem-feito. Brinco muito dizendo que parece o treinamento do ‘Tropa de Elite’. Os mentores são brutalmente verdadeiros”, conta Bittencourt.