O estudo Transformação Digital na América Latina, elaborado fundo de capital de risco Atlantico, aponta ainda que volume de investimentos em startups na região deve triplicar de 2020 para 2021
A Covid-19 teve um impacto desproporcional na economia e na população da América Latina quando comparado a outras regiões do planeta, com uma queda média de 7% no Produto Interno Bruto (PIB). A estimativa é que somente em 2023 o PIB da região retornará ao patamar de 2019, antes da pandemia. Nesse cenário, as empresas de tecnologia e startups ganharam relevância, com crescimento acelerado, e podem desempenhar um papel fundamental na retomada da economia.
Um indicativo é o volume de investimentos sem precedentes nesse setor, como aponta o estudo Transformação Digital na América Latina (LINK https://docsend.com/view/hyvw3qyab6uh4ixh), elaborado pelo fundo de capital de risco Atlantico. O investimento total em startups e empresas de tecnologia na América Latina passou de US$ 2,3 bilhões em 2018 para US$ 5,3 bilhões em 2020 e a projeção é de um salto para mais que o triplo em 2021 – US$ 18,6 bilhões, considerando o mesmo número de investimentos do primeiro semestre deste ano.
Isso se reflete no número e no valor de mercado de unicórnios (empresas privadas de tech avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais), que dobram a cada ano. Em 2018, surgiram quatro unicórnios na América Latina. Em 2019, foram oito. O ano de 2020 registrou 18 novos unicórnios e em 2021, até agosto, esse número já chegava a 26.
Novos unicórnios na América Latina em 2021
Madeira Madeira
Bitso
Wild Life
Loft
Tappi
D.local
Clip
Vtex
iFood
Nubank
Kavak
Ualá
C6Bank
Gympass
Creditas
Movile
Loggi
Quinto Andar
Ebanx
NotCo
Hotmart
Cloudwalk
Único
Pipedrive
Tiendanube
Cornershop
O valor dos unicórnios latino-americanos também cresce vertiginosamente. Passou de US$ 19 bilhões em 2018 para US$ 35 bilhões em 2019, subiu para US$ 46 bilhões em 2020 e atingiu US$ 105 bilhões em agosto de 2021.
Duas empresas latino-americanas de tecnologia fizeram IPO (da sigla em inglês para Oferta Pública Inicial, quando uma empresa vende suas ações para o público na bolsa de valores pela primeira vez) desde o início de 2020 – Vtex e D.local. Embora o valor de mercado de empresas que abrem capital localmente tenda a ser menor do que o valor daquelas que fizeram IPO nos Estados Unidos, o valor de mercado acumulado das 10 maiores empresas de tecnologia listadas na bolsa brasileira cresceu mais de três vezes entre 2010 e 2019, numa variação de aproximadamente US$ 86 bilhões.
Em entrevista à Época Negócios, Julio Vasconcellos, fundador do Atlantico, vê potencial para surgimento de unicórnios de seguros. “O brasileiro se acostumou a fazer tudo via app e não quer mais ter que recorrer ao papel, ir ao cartório, aquele negócio analógico. Isso abre oportunidades para empresas que conseguirem suprir essa demanda. Acreditamos que em breve irão surgir gigantes nesse setor”, conta.
Espaço para crescer
E apesar do crescimento inédito da digitalização na América Latina, os números devem continuar surpreendendo. Os latino-americanos são os maiores usuários de internet do mundo, com os brasileiros encabeçando a lista. O tempo por dia online chega a 10h08min no Brasil e 10h07min na Colômbia, enquanto a média global é de 6h54min e, nos Estados Unidos, alcança 7h11min.
O Índice Atlantico de Transformação Digital, que mede a velocidade das mudanças, avaliando fatores como penetração da internet e de aplicativos, aumento do número e da complexidade de empresas de tecnologia e o potencial de crescimento do ecossistema de inovação, cresceu de 2,3%, em 2020, para 3,4% neste ano na América Latina. O Brasil também registrou aumento, de 2,8% em 2020 para 4,5% em 2021.
Mesmo com os rápidos avanços, o potencial de crescimento é enorme em comparação com outras regiões. Nos Estados Unidos, por exemplo, esse índice é de 69,8%, seguido por China, com 30,2%, e Índia, com 14,2%.