Por João Vitor Castro
Você sabe o que é uma startup? Para Ricardo Correa, de 43 anos, visitante do ESX, o maior evento de inovação do Estado, realizado no início de dezembro, em Vitória, startups são empresas embrionárias, que desenvolvem uma ideia e planejam colocá-la no mercado. Já o casal Rodrigo e Vitória, ambos de 23 anos, as define como empresas em período inicial, normalmente voltadas para a tecnologia e a inovação, com o intuito de sanar algum problema. E Marisa, de 53 anos, afirma que tem uma ideia do que são essas empresas, mas não sabe definir.
Não é surpreendente que todos os entrevistados tenham dado respostas divergentes sobre o conceito de um dos termos que mais figuram quando se fala de inovação. Para Ricardo, o uso excessivo de termos específicos sem uma contextualização dificulta o entendimento geral sobre temas de inovação e inibe o conhecimento desse meio. Marisa concorda, e acredita haver também um dilema geracional: “Para nós que somos de outra geração isso se torna realmente mais complexo”. Rodrigo e Vitória defendem que haja uma comunicação mais informal e abrangente para facilitar o entendimento.
Segundo o professor da Ufes Luciano Raizer, especialista em indústria 4.0, a melhor forma de simplificar e desmistificar o universo da inovação é apresentando e explicando o essencial: “Ao focar na essência, você está vendo a verdade de maneira mais simples, para que você possa estimular as pessoas”, afirma. O professor defende também uma educação empreendedora, que comece o mais cedo possível a ser apresentada aos jovens. “A educação empreendedora começa a mostrar esses termos, mostrar essas trilhas, mostrar os métodos de inovação, e as pessoas passam a conhecer melhor esse universo. E aí desmistifica”, explica.
De acordo com ele, esse conhecimento é essencial no atual momento de transformações e no fortalecimento do ecossistema de inovação capixaba e brasileiro. Isso porque, como a taxa de sucesso de uma inovação é muito pequena, é preciso estimular os jovens que possuem condições e ideias para se lançarem nesse desafio.
Portanto, para ajudar a desmistificar esse cenário, o Whitepaper apresenta os principais termos e elementos de um ecossistema de inovação no guia elaborado com a ajuda de atores do ecossistema capixaba:
Ecossistema
Um ecossistema de inovação é algo complexo: é um conjunto de atores que têm que trabalhar de maneira alinhada para que o mais importante aconteça, que é o surgimento das inovações. Isso inclui desde as startups e as instituições de apoio, como Sebrae, Sicoob e Findeslab, até o governo do Estado, as universidades e a imprensa.
Inovação
A inovação é o conhecimento aplicado à necessidade. Ou seja, ela é o resultado de um conjunto de elementos, que vão do conhecimento produzido pelas universidades ao suporte financeiro de instituições e órgãos para que uma ideia se concretize e ofereça soluções novas e viáveis para problemas reais.
Hélice quádrupla
É a combinação de quatro agentes básicos para um ecossistema de inovação: empresas, governo, instituições da sociedade civil e academia.
Empresas
As empresas são a primeira parte desse movimento, pois são elas que vão aplicar as ideias inovadoras, sejam as startups ou empresas tradicionais, repensando e renovando seu negócio ou parte dele.
Academia
A primeira parte é a das empresas, mas isso tem que ser estimulado pelo conhecimento, pela ciência, pela tecnologia. Aí entram as universidades, onde ocorre a geração do conhecimento, a pesquisa, o desenvolvimento. São os dois elementos essenciais para a inovação: a necessidade, a realidade – ou seja, as empresas – e o conhecimento, a ciência e tecnologia, onde estão as universidades.
Instituições da sociedade civil
Seu papel é estimular, apoiar e trabalhar pela inovação, oferecendo suporte aos empreendedores para transformar sua ideia em nota fiscal. Exemplos são as incubadoras, aceleradoras e hubs (que serão explicados mais adiante), mas também instituições tradicionais como o Sebrae, o Senai e a Findes.
Governo/Estado
O papel do poder público é criar as condições para a inovação, por meio de políticas públicas, fundos, por meio das suas instituições governamentais.
Imprensa
Embora não faça parte da hélice quádrupla, a imprensa possui um papel fundamental no ecossistema de inovação, pois é ela quem confere credibilidade às startups e aos produtos/serviços abordados em suas matérias, quem expõe dores de grandes organizações ou da sociedade como um todo e quem potencializa o alcance das inovações, por meio da divulgação de oportunidades, inovações em curso e estímulo responsável ao empreendedorismo de inovação.
Startups
Diferente do que comumente se pensa, uma startup não é uma empresa nascente e não necessariamente envolve aplicativos, como Uber e iFood. Conforme explica Denis Ferrari, diretor da Azys Inovação, para ser considerada uma startup, uma empresa deve apresentar um alto grau de inovação; um faturamento desvinculado do custo, ou seja, que possa ter um lucro ascendente que não seja acompanhado pelos gastos; e escalabilidade, que significa conseguir vender para muitos clientes ao mesmo tempo mantendo a qualidade. Tudo isso utilizando a tecnologia como meio.
Habitat de inovação
É um ambiente onde se inova sistematicamente. São exemplos de habitats de inovação as incubadoras, as aceleradoras e os hubs.
Incubadoras
Frequentemente ligadas a universidades e outras instituições acadêmicas e financiadas por grandes empresas, as incubadoras são voltadas para projetos de longo prazo desenvolvendo tecnologia inovadora e de ponta para trabalhar com startups em nascimento.
Aceleradoras
A principal função das aceleradoras é validar os problemas identificados e as soluções oferecidas pelas startups, realizando pesquisas, oferecendo assistência e assessoria e deixando os projetos mais prontos para serem levados ao mercado.
Hubs
Espaços onde empreendedores e startups se agrupam, debatem com especialistas da área e pesquisadores e desenvolvem métodos para tornar suas ideias cada vez mais viáveis, até estarem prontas para saírem do papel e virarem negócios de fato.
Dores
Dor pode-se entender como necessidade, como desafio ou algo que precisa ser melhorado. Então é a oportunidade da inovação. É na identificação das dores, a partir do olhar para a realidade, que se inicia todo o processo de inovação.
Tecnologia
Apesar de ser um termo corriqueiro, presente no cotidiano, o conceito de tecnologia voltado para a inovação não é tão simples quanto parece. Tecnologia é o conhecimento que as pessoas têm aplicado ao desenvolvimento de produtos e processos de negócio. Então quando se aplica a tecnologia nessa necessidade, surge a inovação.
Ideia
Uma ideia, no dicionário empreendedor, não é um mero insight fruto da cabeça de uma pessoa. Uma ideia é o resultado de um processo que envolve a identificação de problemas ou necessidades (as dores), a proposição de possíveis soluções e a validação desses problemas e das soluções levantadas.
Protótipos
“Protótipo é uma experimentação, é uma forma como você modela aquela ideia ainda inacabada, mas que permita o que é fundamental em inovação: testar. Inovação precisa ser testada. E a gente não testa já no produto acabado. A gente testa no começo do produto. Aí recebe esse nome de protótipo”, explica Raizer.
MVP
Da sigla em inglês minimum viable product (produto mínimo viável). À medida que são feitos os testes, aprendendo com eles, chega-se no que se chama de MVP, que é o produto mínimo viável. Esse é o protótipo em condições de ir para o mercado.
Go to market
A expressão em inglês significa “ir para o mercado”, e na inovação isso é exatamente colocar seu projeto em prática. Segundo o professor Raizer, “o mercado tem um monte de resposta. Você pode ter que readequar o seu produto, pode ter que mudar a forma de comercialização…”, ou seja, o mercado vai realinhar a ideia original à medida que surjam novas necessidades.
Pivotar
Pivotar é justamente fazer essa readequação referida no item anterior. Às vezes existe um produto bom, mas no mercado errado, ou no mercado certo, mas da forma errada. Ao pivotar, ao trabalhar dessa forma correta, o empreendedor consegue ir melhorando. E aí ele começa a gerar negócio e inicia o que se chama de tracionar.
Tracionar
De projeto virou empresa, virou negócio. Negócio tem estrutura, operação, processo, produto, mercado, gestão. Isso tem que funcionar como empresa e essa empresa, para poder crescer, tem que sobreviver ao que se chama de vale da morte das startups, onde tudo acaba.
Escalar
Escalar é multiplicar por muito, crescer exponencialmente, tanto em clientes e faturamento quanto em tamanho. A empresa passa a ter um crescimento enorme de clientes, crescimento enorme de faturamento e, com isso, ela pode ter uma sobrevivência melhor, e aí deixa de ser o conceito de startup e já vira empresa.
Inovação tradicional ou fechada
É a solução inovadora que surge da perspectiva de um empreendedor ou um grupo de empreendedores e inicia o caminho para ser oferecida à sociedade.
Inovação aberta
Ocorre quando as corporações lançam desafios, expõem uma dor, e por meio de um edital ou outro método de escolha, seleciona-se uma startup para solucionar um problema já conhecido e exposto. Um exemplo de ambiente de inovação aberta no Espírito Santo é o FindesLab, que faz a intermediação entre grandes empresas que precisam de uma solução para um desafio e startups que podem desenvolver essa solução.
Vale da morte das startups
O vale da morte das startups é o período em que a imensa maioria das startups chega ao fim. Hoje em dia, isso ocorre em cerca de sete anos, que é a expectativa de vida média da maioria dessas empresas.
Disrupção
Ocorre quando todos que utilizam uma solução migram para uma nova, e essa nova solução cria, assim, um novo padrão. Exemplo clássico disso foi a rápida migração dos clientes do táxi para o Uber. Se o aplicativo era antes uma alternativa ao táxi, hoje é o táxi que funciona muitas vezes como mero suporte para quando é difícil pegar um Uber ou outros apps semelhantes.
Emitir nota fiscal
Um dos jargões mais utilizados no ecossistema, emitir nota fiscal é o objetivo de toda empresa. Isso significa se tornar lucrativa. “Emitir notas fiscais” é bom para todos os agentes envolvidos na inovação: para as startups, significa lucrar e crescer; para o cliente, significa maior segurança e confiabilidade na manutenção daquele serviço; para o Estado, significa faturamento em impostos, geração de emprego e renda e solidificação de uma economia mais inovadora.